Primeira carga da Transnordestina será transportada em 23 de outubro

A Transnordestina Logística (TLSA) realizará no dia 23 de outubro o primeiro transporte de carga da ferrovia Transnordestina, em um trecho de 580 quilômetros entre os municípios de Bela Vista, no Piauí, e Iguatu, no Ceará. A operação experimental, autorizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), é considerada um marco para a retomada das atividades do empreendimento ferroviário, iniciado há quase vinte anos e ainda em fase de implantação.

De acordo com a empresa, a viagem de estreia terá caráter técnico e deverá testar a infraestrutura de trilhos, sistemas de sinalização e operação de locomotivas. A velocidade máxima prevista é de 60 quilômetros por hora. A fase de comissionamento é a última etapa antes do início da operação comercial plena da ferrovia.

Marco logístico para o Nordeste

Com a entrada em operação do trecho, a expectativa é de que o projeto contribua para reduzir em até 25% os custos de transporte de cargas agrícolas e minerais em relação ao modal rodoviário, segundo estimativas apresentadas pela TLSA. O empreendimento deve beneficiar 1.007 municípios de três estados — Ceará, Piauí e Pernambuco —, abrangendo uma população de 26,2 milhões de pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) conjunto superior a R$ 500 bilhões.

A ferrovia, planejada para ligar o sertão do Piauí ao Porto do Pecém (CE), é vista como uma das obras mais estratégicas para o escoamento da produção agrícola e mineral do Nordeste, conectando o interior aos portos e melhorando a competitividade regional.

Histórico de atrasos e retomada

Anunciada originalmente em 2006, a Transnordestina enfrentou sucessivos atrasos, readequações de traçado e dificuldades financeiras. O projeto foi inicialmente concebido para ligar Eliseu Martins (PI) aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), mas a concessão sofreu revisões e atualmente foca no trecho cearense.

A estimativa mais recente indica que o investimento total ultrapassa R$ 20 bilhões, parte proveniente de recursos privados e outra de financiamentos públicos, via BNDES e Fundo de Investimento do Nordeste (Finor). A concessionária afirma que mais de 90% das obras entre Piauí e Ceará já estão concluídas.

Impactos econômicos e sociais

A expectativa do setor produtivo é de que a ferrovia reduza o custo logístico e impulsione a instalação de novos polos industriais e centros de distribuição no interior nordestino. Municípios como Iguatu, Missão Velha e Quixeramobim já estudam a criação de terminais de carga e zonas de processamento de exportação para aproveitar a infraestrutura.

Segundo a Transnordestina Logística, o empreendimento deve gerar cerca de 4 mil empregos diretos e indiretos e fortalecer a economia regional, especialmente nas cadeias de grãos (soja e milho), minérios e produtos siderúrgicos.

O economista Carlos Eduardo Barbosa, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), avalia que o início da operação “representa um divisor de águas para a economia do semiárido”, mas alerta que a integração com outros modais será determinante.

“A ferrovia só se consolida se houver articulação com o transporte rodoviário e portuário. Caso contrário, o ganho de competitividade será parcial”, afirma.

Sustentabilidade e desafios

Além do impacto econômico, o transporte ferroviário é apontado como alternativa mais sustentável, com menor emissão de gases poluentes e redução do tráfego rodoviário pesado nas rodovias estaduais. A ANTT informou que a fase de testes também servirá para avaliar condições de segurança operacional e ambientais ao longo do trajeto.

Apesar do otimismo, o projeto ainda enfrenta desafios. Especialistas destacam a necessidade de garantir manutenção constante da malha, definir modelos tarifários viáveis e assegurar governança financeira após anos de incertezas.

“A Transnordestina é um projeto emblemático. O início das operações é simbólico, mas a consolidação virá com a operação comercial plena e regular”, observa o engenheiro ferroviário Marcos Tavares, consultor do setor de infraestrutura.

Perspectivas

A operação experimental de outubro servirá como referência para os testes seguintes, previstos até o fim do ano. Se o cronograma for mantido, a operação comercial entre Piauí e Ceará poderá começar em 2026. O trecho até o Porto do Pecém permanece em obras, com conclusão estimada para o primeiro semestre do mesmo ano.

Enquanto o primeiro trem se prepara para cruzar o sertão nordestino, a expectativa de autoridades e do setor produtivo é de que o apito da locomotiva marque, finalmente, a entrada do Nordeste em uma nova era logística — ligando o interior produtivo aos portos e ao mercado global.

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