Produção de chassis de ônibus despenca em novembro e expõe dependência do Caminho da Escola

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A indústria de chassis de ônibus encerrou novembro com o pior desempenho para o mês desde 2015, acendendo um sinal de alerta nas montadoras e na Anfavea. A combinação entre juros elevados, crédito travado, inadimplência crescente e a ausência de um novo pregão do Caminho da Escola — principal motor de demanda institucional do setor — levou as fábricas a reduzir ritmo, ajustar estoques e reavaliar expectativas para o fim de 2025.

Segundo dados divulgados pela Anfavea, o mês fechou com 1,3 mil chassis produzidos, queda de 37,9% em relação a outubro e de 45,7% frente a novembro do ano passado. Em algumas comparações, o recuo ultrapassa 47%, configurando o nível mais baixo não apenas de 2025, mas de qualquer novembro registrado em uma década. “A produção de ônibus em novembro foi o pior resultado desde 2015”, reforçou Igor Calvet, presidente da entidade, durante a apresentação do balanço setorial.

A desaceleração é explicada por um cenário macroeconômico adverso. A taxa Selic em 15% — quatro pontos acima do patamar de um ano atrás — restringe o financiamento tanto para empresas quanto para consumidores. A oferta de crédito diminuiu, a inadimplência subiu e, diante desse ambiente, as montadoras foram obrigadas a frear a produção para adequá-la à demanda real. “Há uma limitação maior, uma queda acentuada no crédito. Mesmo assim, o mercado tem sido resiliente”, avaliou Calvet.

A demora na abertura de um novo pregão do Caminho da Escola agrava o quadro. O programa federal, responsável por volumes significativos de compras públicas, teve a última licitação concluída recentemente e, desde então, não anunciou novos lotes. Sem visibilidade sobre o próximo leilão, as fabricantes enfrentam instabilidade nas linhas de montagem. “O Caminho da Escola é um gerador de volume importante para o segmento, e esse entrave força as empresas a ajustar ritmos e estoques”, afirmou o presidente da Anfavea.

Apesar do tombo de novembro, o acumulado dos onze primeiros meses ainda é positivo. Foram 27,5 mil chassis produzidos, alta de 5,5% sobre igual período de 2024. O avanço, no entanto, perdeu força: até outubro, a expansão era de 10,8%. A Anfavea previa encerramento do ano com cerca de 25,3 mil unidades e crescimento de 12,8% sobre 2024 — projeção que deve agora ser revisada. Entre os segmentos, os modelos urbanos concentraram 22,4 mil unidades, praticamente estáveis em relação ao ano anterior, enquanto os rodoviários avançaram 37%, totalizando pouco mais de 5 mil chassis.

No mercado doméstico, os emplacamentos mantiveram desempenho positivo. Novembro registrou 2,2 mil ônibus vendidos, avanço de 11,8% sobre outubro e de 18% na comparação anual. No acumulado, as vendas somam 21,9 mil unidades, alta de 8,2%. No ranking por montadora, a Mercedes-Benz lidera com 9,4 mil emplacamentos, seguida por Volkswagen Caminhões e Ônibus (5,4 mil) e Agrale (2,7 mil). Iveco, Scania e Volvo completam a lista, com variações expressivas — a Iveco, por exemplo, registra crescimento acima de 30%.

As exportações, por outro lado, perderam ritmo no mês. Foram embarcados 398 chassis, retração de 36,8% na comparação anual e de 8,3% frente a outubro. Mesmo assim, o acumulado do ano mostra força: 6,1 mil unidades exportadas, alta de 37% sobre igual período de 2024. Os ônibus urbanos lideram as vendas externas, com mais de 3,1 mil unidades, seguidos pelos rodoviários. O segmento CKD, porém, caiu 16% no ano.

O setor observa 2026 com cautela. Ano eleitoral, marcado tradicionalmente por instabilidade política, deve manter a demanda pressionada — embora haja expectativa de início da trajetória de queda dos juros no primeiro trimestre. Para Calvet, a perspectiva para o próximo ciclo não é de retração, mas tampouco de uma aceleração robusta: “O que posso dizer hoje é que 2026 será um ano igual a 2025.”

Com o horizonte ainda nebuloso, a indústria depende diretamente da normalização das políticas públicas e de um ambiente financeiro menos restritivo para recuperar ritmo. Até lá, segue ajustando o passo para não deixar a engrenagem parar.

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