Se tudo transcorrer dentro do previsto, em menos de dois anos o Rio Grande do Sul deverá verificar a operação das primeiras plantas de produção de hidrogênio verde voltado para a fabricação de fertilizantes agrícolas. Pelo menos três projetos desse segmento estimam para 2027 o começo das suas atividades. Esses empreendimentos são conduzidos pelas empresas Infravix, BeGreen e Renobrax.
O cronograma também é influenciado pelo Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Hidrogênio Verde (H2V), que prevê um apoio de R$ 102,4 milhões por parte do governo gaúcho a projetos ligados à área, sendo uma subvenção de, no máximo, R$ 30 milhões por iniciativa. As ações das três companhias estão entre as que foram habilitadas no programa estadual. O hidrogênio verde é um combustível que pode ser obtido através das fontes renováveis de energia, como a solar e a eólica. Além de ser usado como fonte energética, ele pode ser aproveitado como insumo na cadeia de fertilizantes.
O representante da Infravix Roberto Zuch detalha que a planta que será construída pela empresa terá capacidade para produzir até 100 mil toneladas ao ano de ureia verde. “O que poderá ajudar a substituir parte das importações”, comenta Zuch. Ele ressalta que isso representa em torno de 10% da ureia convencional que chega anualmente no Porto de Rio Grande (município onde será instalada a unidade), do exterior. O investimento na primeira fase do complexo é calculado em torno de US$ 150 milhões (mais de R$ 800 milhões pelo câmbio atual).
O terreno em que será erguida a estrutura fica próximo ao Estaleiro Rio Grande (empreendimento que, como a Infravix, é vinculado ao grupo Novapar). A fábrica terá, inicialmente, uma demanda de cerca de 80 MW médios de energia elétrica, provavelmente atendida pela fonte solar. Contudo, posteriormente, está prevista a ampliação da unidade e com isso esse patamar deverá se elevar para cerca de 120 MW médios.
Por sua vez, o diretor executivo da Renobrax, Stevan Silveira, informa que o complexo da empresa será construído na cidade de Estrela e terá uma capacidade para gerar cerca de 2 mil toneladas de amônia anidra por ano. O investimento nessa iniciativa é estimado em R$ 46 milhões.
Apesar do otimismo sobre o futuro do mercado de fertilizantes verdes, ele adverte que um obstáculo que precisará ser superado é a competição com o custo do chamado fertilizante cinza, feito a partir de fontes fósseis, que atualmente é mais baixo.
“É importante encontrar nichos de mercado para produtos diferenciados e estratégicos”, argumenta Silveira. O diretor da Renobrax aponta que há três formas de tornar os fertilizantes feitos a partir do hidrogênio verde mais competitivos: conseguir um preço reduzido da energia elétrica utilizada no processo, aprimoramento de tecnologia e valorização do produto final (devido ao seu menor impacto ambiental).
Ele enfatiza que é importante estar preparado para as oportunidades. “A gente tem que estar na parada de ônibus para quando ele passar a gente subir”, defende Silveira. Já o diretor de operações da BeGreen, Luiz Paulo Hauth, argumenta que o início da propagação de uma nova tecnologia sempre é mais difícil, por isso é importante o apoio governamental.
A companhia está desenvolvendo seu projeto em Passo Fundo, com capacidade anual de produção de 2 mil toneladas de amônia anidra e 6,6 mil toneladas de amônia em solução. O investimento previsto nesse complexo é de R$ 50 milhões. Hauth reforça que a iniciativa conta com o apoio da Universidade de Passo Fundo (UPF) e será uma “empresa-escola”, também atuando na formação de mão de obra e com cursos de especialização no segmento.
Além da unidade passo-fundense, a BeGreen pretende desenvolver plantas similares em Tio Hugo e Condor. “O fertilizante verde é uma ferramenta que auxilia no processo de descarbonização do campo”, assinala Hauth. Ele explica que quando a ureia originada de uma fonte fóssil é utilizada na agricultura, o insumo acaba liberando gás carbônico na atmosfera.
A produção de fertilizantes a partir do hidrogênio verde foi o assunto abordado nesta quinta-feira (4) no evento Diálogos Energia e Futuro, promovido na Expointer pelas secretarias estaduais do Meio Ambiente e Infraestrutura e da Casa Civil. Os debatedores foram unânimes em indicar que para o Rio Grande do Sul o modelo ideal de produção de fertilizantes verdes é através de projetos de menor escala e de forma descentralizada.