Quais setores puxaram a queda do emprego na indústria gaúcha nos dois primeiros meses de tarifaço dos EUA?

O efeito do tarifaço dos Estados Unidos sobre o emprego começa a aparecer com mais clareza em alguns setores da economia do Rio Grande do Sul. No acumulado de agosto e setembro, período com vigência da sanção, a indústria fechou 6,1 mil vagas com carteira assinada no Estado. Desconsiderados efeitos sazonais na indústria do tabaco, a queda foi puxada principalmente pelos ramos de couro e calçado, veículos, madeira e de máquinas e equipamentos.

Além da sobretaxa americana, redução de exportações para Argentina e problemas internos, como juro alto e descontrole fiscal, ajudam a explicar essa queda, segundo especialistas e integrantes do setor.

Na soma dos dois meses, a indústria gaúcha fechou 6.141 postos com carteira — 4.046 em agosto, e 2.095 em setembro.

O montante é bem acima do registrado no mesmo período do ano passado (-280).

A maior parte dos fechamentos neste ano está na indústria do tabaco, que concentra 5.217 vagas encerradas. O Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco afirma que esse movimento não ocorre em razão do tarifaço, mas diante de aspectos sazonais de fim de processamento e industrialização da safra.

Os dados são do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O levantamento leva em conta o saldo entre contratações e demissões.

Os segmentos de fabricação de artigos de couro e calçados, de veículos automotores, reboques e carrocerias, de produtos de madeira e de máquinas e equipamentos concentram 2.255 fechamentos de vagas no período (veja no gráfico mais abaixo).

A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) avalia que o desempenho do emprego formal no setor começa a apresentar “impactos moderados da elevação das tarifas determinada pelo governo dos EUA”. Por meio de nota, a entidade cita o efeito sazonal da indústria do tabaco, mas destaca que o saldo está mais negativo do que o registrado em anos anteriores:

“Tanto o saldo negativo de agosto de 2025 quanto o de setembro ficaram significativamente abaixo da média dos últimos quatro anos, indicando que, além do impacto sazonal, outros fatores contribuíram para o resultado”.

Calçados e madeira

Conversando com integrantes do setor, o impacto do tarifaço parece ser maior nos ramos de couro e calçados e da madeira. A Fiergs destaca que, dos setores com maior exposição aos EUA e com significativo peso no emprego industrial do Estado, esses dois são os que apresentam os piores saldos no período de tarifaço.

O ramo de couro e calçados fechou 959 vagas. Somente o segmento de fabricação de calçados e partes para esse produto encerrou 901 postos no período. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, afirma que, além do tarifaço, esse movimento de mais desligamentos do que admissões também responde a menor demanda da Argentina:

— É um reflexo do tarifaço americano e também de um problema de queda das exportações para a Argentina. No mês de setembro houve queda de 25% das exportações de calçados para a Argentina e de 24% pro mercado norte-americano. Então, esses dois fatos refletiram nesse número de perda de postos de trabalho.

Na indústria da madeira, foram fechadas 448 vagas no bimestre de agosto e setembro. O número está próximo das projeções e estimativas apontadas pelo Sindimadeira RS, que apontava entre 500 e 600 postos perdidos no período.

O presidente da entidade, Leonardo De Zorzi, destaca que o setor segue com um otimismo cauteloso sobre o futuro do tarifaço. De um lado, comemora o avanço no aspecto diplomático entre Brasil e Estados Unidos. De outro, adota cautela diante da falta de avanços objetivos.

Veículos automotores e máquinas e equipamentos

Juntos, os ramos de fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias e de fabricação de máquinas e equipamentos, que tem forte presença na serra gaúcha, fecharam 848 postos em agosto e setembro.

O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias), Celestino Loro, afirma que o fechamento de vagas nesses ramos na região tem pouco impacto no tarifaço. Na avaliação do dirigente, os custos internos, com juro alto e problemas fiscais, estão pesando mais sobre o setor neste momento. O aumento de tarifa apenas coloca mais um pouco de combustível nesse processo, segundo Loro:

— Seja em autopeças, em implementos, em ônibus, em máquinas agrícolas. É um mercado que está extremamente ressentido, que sente na veia o problema da taxa de juros elevadíssima, descontrole de contas públicas. Ou seja, se você pegar os dados da Anfavea nos últimos meses, vai ver que a venda de pesados caiu fortemente. E o efeito se dá aqui na Serra. Tem uma conexão direta.

Impacto contido

Na avaliação da Fiergs, o impacto contido no mercado de trabalho ocorre, em parte, diante do “elevado custo de demitir trabalhadores e da expectativa de melhora nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos”.

Apesar disso, lembra que dados da Sondagem Industrial, realizada pela entidade, mostraram que, pelo quarto mês consecutivo, o índice do número de empregados da indústria gaúcha ficou abaixo da marca de 50 pontos, o que indica retração.

“O recuo no emprego foi menos intenso e disseminado do que agosto, mas acima do padrão histórico para o mês. Já as expectativas de emprego na indústria apontam queda no número de empregados nos próximos seis meses”, diz nota da federação.

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