
O setor industrial do Piauí vem acompanhando o movimento de expansão da economia do Estado com o mesmo vigor. Seu maior impulso é o desempenho, cada vez mais consistente, de empresas voltadas para a exploração mineral e a produção de alimentos e bebidas, além dos investimentos feitos nas áreas de energia renovável, bens siderúrgicos e construção civil.
Os dados mais recentes indicam que em 2022 a indústria do Piauí teve uma participação de 15,6% no PIB do Estado (R$ 10,2 bilhões), com 5,7 mil empresas, conforme dados do Centro de Inteligência em Economia e Estratégia Territorial (Ciet), vinculado à Secretaria de Planejamento do Piauí. Em relação a 2023, as estimativas baseadas em dados que serão divulgados até dezembro indicam uma participação um pouco menor no PIB estadual, de 14,3% (R$ 8 bilhões), reflexo da desaceleração em razão do foco em agropecuária e serviços.
Para Islano Marques, gestor corporativo da área internacional e mercado da Federação das Indústrias do Estado do Piauí (Fiepi), o setor industrial é vital para o desenvolvimento do Estado. Emprega perto de 70 mil trabalhadores formais, com salário médio de R$ 2.111,50 (dados de 2023), melhorando as condições de vida de boa parte da população. As pequenas empresas, por exemplo, geram 35% dos empregos, enquanto as médias, 26%.
“Nos últimos três anos, a indústria vem apresentando perspectivas positivas, acompanhando o processo de transformação gradual da economia do Estado”, afirma Diarlinson Lucas, diretor do Ciet.
Projeções feitas pelo banco Santander, divulgadas pelo governo estadual, mostram uma trajetória de crescimento da indústria piauiense: alta de 8,9% em 2023, 5,5% em 2024 e 5% em 2025. Neste ano, de acordo com o levantamento, a indústria nordestina deve avançar 2,3% e a brasileira, 1,4%.
A construção civil é uma das atividades mais relevantes na composição da produção industrial do Piauí, com participação de 36,6%, e a que mais cresceu nos últimos anos, particularmente nas áreas de infraestrutura e de empreendimentos imobiliários. “O impacto transformador veio com a nova política habitacional do governo do Piauí e com os investimentos do governo federal em obras e ações nos 224 municípios do Estado”, conta Guilherme Fortes, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-PI). “Só em obras do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os investimentos somam R$ 46,6 bilhões”.
Trata-se de uma atividade estratégica para a economia estadual, diz ele. Em 2022, o Piauí produziu R$ 4,6 bilhões em incorporações, obras e serviços de construção, o equivalente a 6,3% do total gerado no Nordeste. O número de empresas do setor aumentou 55% nos últimos dez anos, passando de 457 empresas em 2013 para 711 em 2022, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro de empregados soma mais de 20 mil pessoas, registrando queda do contingente nesse período, devido ao aumento da informalidade. “De qualquer forma, é uma expansão que reflete o atual nível de especialização das empresas”, diz Fortes.
Segundo ele, 2024 foi o melhor ano da construção civil nessa década: maior número de lançamentos e de vendas e maior número de empreendimentos e de contratações. “Hoje temos cinco mil unidades habitacionais em obras, dentro da Fase 1 do programa Minha Casa, Minha Vida, para famílias de baixa renda, e mais 2.855 já contratadas para serem iniciadas a partir de dezembro”, indica. Um exemplo de boa performance da indústria, diz, é o de sua própria empresa, a Construtora Macêdo Fortes, criada há 20 anos e que conta com mais de mil funcionários. “Estamos com dez obras em andamento, em média com 150 unidades habitacionais por empreendimento, e neste ano deveremos atingir a receita em torno de R$ 100 milhões”, afirma.
Uma empresa que cresce na esteira da indústria da construção é o grupo Ferronorte, com atuação no beneficiamento e distribuição de aço no Piauí e em vários Estados nordestinos. Instalado em Teresina, o Complexo Ferronorte Industrial abriga várias áreas de produção, com capacidade para transformar 190 mil toneladas de ferro e aço por ano. Com centros de distribuição no Piauí e no Maranhão, cerca de 20 lojas integradas, que vendem produtos e insumos para os setores de construção e metalurgia, o grupo tem planos de alcançar outros Estados do Nordeste. Para isso, está investindo R$ 160 milhões no aumento da produção.
Além de aquecer a economia piauiense, a concessão de incentivos fiscais tem sido uma política de governo fundamental para ajudar na implantação de empresas inovadoras, mesmo as de pequeno porte que possam contribuir para a proteção do meio ambiente. É o caso da Arla 32 Forte, uma microempresa instalada na cidade de Oeiras, que recebeu apoio do Conselho de Desenvolvimento Industrial do Estado do Piauí (Codin), para investir R$ 3 milhões na produção de um aditivo químico denominado Arla 32, utilizado pela indústria automobilística.
O produto, que é exigido pela legislação brasileira para veículos automotores movidos a diesel, reduz a emissão de gases poluentes. “É uma aposta na inovação”, diz Fábio Silva, sócio-proprietário da Arla. “Importamos ureia da Rússia e da China para produzir um produto de qualidade que preserva o meio ambiente”, diz Silva. A meta é fabricar dois milhões de litros do agente redutor líquido automotivo para caminhões a diesel por ano, a partir de 2026.
A indústria do Piauí, porém, enfrenta desafios. “As dificuldades incluem a baixa diversificação que ainda existe nas atividades industriais, uma grande dependência de micros e pequenas empresas (96,6% do total), limitando a escala de produção, e a falta de mão de obra qualificada, além de uma infraestrutura insuficiente”, diz Islano Marques, da Fiepi. Não significa, diz, nenhuma perspectiva pessimista. O mapa de trabalho industrial do Piauí, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), projeta para o período de 2025 a 2027, uma demanda por 84 mil qualificações no setor industrial — 14 mil novas formações e 70 mil requalificações.