
O setor siderúrgico brasileiro vive um momento de expectativa e tensão diante do avanço das investigações do governo sobre possíveis práticas de dumping nas importações de aço da China. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) deve concluir nos próximos meses a apuração que analisa indícios de que o aço chinês estaria sendo vendido no Brasil a preços inferiores aos de custo, configurando concorrência desleal.
A investigação, iniciada em abril de 2024, tem foco especial sobre o laminado a frio, um dos produtos mais afetados pela disparada das importações chinesas. Caso sejam confirmadas as irregularidades, o governo poderá aplicar medidas antidumping — como sobretaxas ou restrições temporárias — até o fim deste ano.
Os números reforçam a preocupação das empresas. Entre janeiro e setembro de 2025, a média mensal de importação de aço saltou 35%, passando de 255 mil toneladas, em 2024, para 345 mil toneladas neste ano. O aumento é atribuído, em grande parte, à entrada de produtos chineses com preços significativamente mais baixos, pressionando a indústria nacional e reduzindo margens de lucro.
A Usiminas, uma das principais siderúrgicas do país, é a primeira a divulgar os resultados do terceiro trimestre. Analistas de mercado já antecipam o impacto da “invasão chinesa” sobre o desempenho das companhias do setor, que vêm enfrentando queda nas vendas e aumento da ociosidade nas plantas industriais. Executivos e associações de classe têm intensificado o diálogo com o governo, argumentando que a manutenção desse cenário pode comprometer empregos e investimentos na cadeia produtiva.
Fontes próximas ao MDIC afirmam que o governo busca equilibrar a necessidade de proteger a indústria local com o compromisso de manter boas relações comerciais com a China, o principal parceiro econômico do Brasil. O tema é sensível para o governo Lula, que tenta reforçar o discurso de reindustrialização sem gerar ruídos diplomáticos com Pequim.
Além da investigação sobre o aço chinês, o ministério também abriu, recentemente, processos semelhantes contra importações de vergalhões e fios de aço provenientes do Egito, da Espanha e da Malásia. As apurações buscam determinar se há prática de dumping nesses produtos — classificados nos códigos NCM 7217.10.19 e 7217.10.90 — e, se confirmadas, poderão resultar em medidas compensatórias.
Enquanto isso, o setor siderúrgico segue em compasso de espera. O resultado das investigações será determinante para o rumo da indústria nacional em 2025 — um ano em que a concorrência internacional e a política industrial brasileira se encontram no centro do debate sobre o futuro do aço no país.