‘Tarifar é estratégia imperfeita’, diz vice da S&P Global

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Países de todo o mundo têm enfrentado dificuldades em equilibrar os altos volumes de entrada de produtos chineses com o relacionamento com o país asiático. O caso de produtos siderúrgicos ilustra bem a situação: enquanto a China inunda mercados como o Brasil com toneladas de aço barato, Pequim ainda é um grande comprador do minério de ferro brasileiro, o que dificulta medidas mais rígidas para barrar os produtos chineses. Brasil e México são exemplos de governos que adotaram modelos de tarifa contra o aço chinês. No entanto, na visão do chefe de relações internacionais e vice-presidente da S&P Global, Carlos Pascual, impor tarifas não é a melhor estratégia de defesa.

“Aumentar tarifas não funciona tão bem. Esses custos refletem em toda a cadeia que depende desse produto, como é o caso do aço, que cria reflexos na indústria de automóveis e em infraestrutura, por exemplo. Tarifar é uma estratégia imperfeita”, disse Pascual ao Valor.

Na indústria siderúrgica, o Brasil impôs o sistema de cota-tarifa sobre o aço chinês. A regra prevê uma alíquota de 25% sobre o aço importado da China que ultrapassar a cota, válida sobre 23 tipos de produtos. Para especialistas do setor, esse modelo não solucionou o problema, uma vez que ainda há altos volumes de aço chinês sendo importados no Brasil. Representantes da indústria têm pedido que o governo brasileiro tome ações mais contundentes de antidumping.

Carlos Pascual, que foi embaixador dos Estados Unidos no México e na Ucrânia, afirma que a China subsidia grande parte das etapas envolvidas nos preços das indústrias, como os custos de logística, além da energia utilizada nas fábricas. O modelo permite que os produtos sejam mais baratos do que os concorrentes. O fato de o mercado doméstico chinês não absorver toda a capacidade manufatureira do país também é um impulso para a exportação.

“A indústria na China consegue produzir a custos mais baixos que qualquer outro país. Isso é um problema para a América Latina, para a Europa e para os Estados Unidos. É uma dinâmica que se repete em diferentes setores”, disse Pascual.

Para o vice-presidente da S&P Global, o que dificulta a capacidade de resposta desses países é a dependência que têm da China como compradora: “Esses países também dependem que a China compre as exportações deles. Não há mercado suficiente em outros lugares do mundo. Ainda não há uma estratégia internacional para solucionar.”

O mercado de chips é mais um exemplo de setor dominado pelos chineses, conforme Pascual, por causa da grande produção de lítio e grafite. Na visão de Pascual, os países devem buscar juntos por uma abordagem diferente: “Os países devem trabalhar juntos e tentar diversificar as relações. Se houver uma correlação maior, com objetivos compartilhados, é possível desenvolver capacidades e coordenar créditos para encorajar investimentos.”

A dinâmica da China também foi percebida na conferência do clima, a COP30, em Belém, segundo Pascual. A rivalidade entre China e Estados Unidos se fez sentir no evento, mesmo que os americanos não tenham enviado delegação oficial, conforme lembrou o diplomata: “A China tem a estratégia de reduzir a dependência de combustíveis fósseis e é forte na venda de produtos relacionados à transição energética, como partes de aerogeradores e baterias. As companhias chinesas têm posição dominante para suprir esses mercados. Por outro lado, os Estados Unidos ainda focam na produção fóssil, mas sofrem pressão do aumento de demanda de energia por parte de data centers e empresas de tecnologia”.

Segundo Pascual, os dois países não ocuparam posições de destaque na conferência, apesar de serem as maiores economias do mundo. “A China sabe que tem capacidade de atrapalhar a industrialização dos Estados Unidos. Mas os americanos também hesitam em confrontar os chineses”, disse Pascual.

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