Fazendeiros nos Estados Unidos enfrentam impactos contrastantes com a imposição de tarifas comerciais durante o governo Trump. Enquanto produtores de soja demonstram preocupação com perdas financeiras após a China suspender as importações da commodity americana, criadores de camarão enxergam as tarifas sobre produtos asiáticos como uma oportunidade de crescimento.
Em entrevista à CNBC, Todd Western, agricultor de sexta geração em Iowa, relatou incertezas quanto ao futuro das exportações, já que a China, maior compradora mundial de soja, não realizou pré-compras para a próxima safra.
Ele destacou que a renda das fazendas já é volátil e que as tarifas somam-se a desafios como seca, preços instáveis, custos com equipamentos e financiamento. Além disso, as medidas encarecem insumos essenciais, como fertilizantes e máquinas agrícolas.
Grandes fornecedores do setor também sentem os efeitos. A fabricante de tratores John Deere registrou queda nas vendas no terceiro trimestre e projeta um impacto de US$ 600 milhões (cerca de R$ 3,19 bilhões, na cotação atual) no ano, devido às tarifas sobre aço e alumínio.
O outro lado da moeda
Por outro lado, em Indiana, produtores de camarão como Karlanea Brownveem nas tarifas uma chance de crescer no mercado. “Assim que soubemos que elas entrariam em vigor, fiquei animada. Não só pelo meu camarão, mas por todos que estão tentando pescar camarão”, disse à CNBC.
Com a tarifa de 50% imposta ao camarão indiano, produtores locais começam a perceber os benefícios. Segundo Karlanea, suas vendas mensais subiram de pouco mais de 200 kg para quase 300 kg, mesmo com capacidade limitada a 250 kg. Ela defende a necessidade de eliminar subsídios americanos que ainda favorecem a produção de camarão no exterior. “Se o custo do camarão importado for comparável ao nosso, eu consigo vender meu produto fresco”.
Apesar de uma leve recuperação no comércio exterior, os desafios persistem. As exportações agrícolas americanas cresceram nas últimas décadas e atingiram US$ 176 bilhões (R$ 936,32 bilhões) em 2024.
Ainda assim, mais de 200 fazendas entraram com pedidos de falência no último ano, um aumento de 55% em relação ao período anterior, em meio à queda nos preços das safras, ao aumento dos custos de produção e à instabilidade gerada pelas tarifas.
Em julho, o governo assinou um pacote legislativo que amplia os incentivos agrícolas em cerca de US$ 65 bilhões (R$ 345,8 bilhões) na próxima década. Desse total, US$ 59 bilhões (R$ 313,8 bilhões) são destinados a seguros de safra e assistência em caso de desastres naturais.
Ainda assim, os agricultores enfrentam margens de lucro estreitas e riscos constantes, como clima imprevisível, pragas e oscilações nos preços das commodities. Embora a agricultura urbana comece a despontar como uma alternativa menos exposta ao mercado global, o grosso da produção segue dependente das exportações.