Transnordestina: Tufi Daher anuncia início dos testes e entreposto em Salgueiro

A Ferrovia Transnordestina deu um passo decisivo rumo à operação ao alcançar 100% da mobilização das obras no Ceará e iniciar os testes operacionais no primeiro trecho funcional do projeto, entre o Piauí e o Ceará. O presidente da Transnordestina Logística S.A. (TLSA) , Tufi Daher Filho, confirmou em entrevista exclusiva ao Movimento Econômico que o primeiro carregamento experimental de grãos deve ocorrer já nesta quinta-feira, 18, marcando o início da fase operacional da ferrovia. Os impactos da obra alcançam Ceará, Piauí e Pernambuco, que deve receber um entreposto comercial em Salgueiro.

Além de Salgueiro, as novas frentes de desenvolvimento logístico incluem o novo terminal ferroviário dedicado a grãos, minérios e fertilizantes no Porto do Pecém. Na entrevista, Daher revelou que a ferrovia vai começar a transportar gesso da região do Araripe pernambucano e abordou o papel da Transnordestina na integração do Matopiba, a redução dos custos logísticos, a atração de indústrias ao longo da ferrovia e a perspectiva de expansão da capacidade portuária no Nordeste, consolidando o projeto como um dos principais vetores de transformação econômica da região.

Movimento Econômico – A Transnordestina atingiu recentemente 100% da mobilização das obras no Estado. Qual é o impacto imediato dessa etapa para a economia cearense e para o cronograma do projeto?

Tufi Daher – Isso é de fundamental importância. Enquanto todos os lotes não estivessem contratados, sempre haveria um risco de descontinuidade entre as obras. Agora, com a contratação dos lotes 9 e 10, toda a ferrovia está mobilizada. O impacto imediato é a geração de empregos diretos e indiretos. Com a contratação de cerca de 2 mil novos trabalhadores, somados aos 4.500 que já temos, chegamos a mais de 6.500 empregos diretos. Isso movimenta fortemente o comércio local, postos de combustíveis, hotéis, restaurantes, farmácias e diversos outros serviços. Na maioria das vezes, esgotamos praticamente toda a mão de obra disponível nas pequenas cidades próximas ao traçado da ferrovia.

ME – Estamos falando de um projeto que envolve mais de R$ 15 bilhões. Como esse volume de investimentos se traduz em ganho de competitividade para o Nordeste no médio e longo prazo?

Tufi Daher – De forma extremamente positiva. Um projeto dessa magnitude, com mais de mil quilômetros de ferrovias, a Trasnordestina é hoje um dos maiores projetos em construção no mundo, não apenas no Brasil. Isso é transformador para a economia local. Ao longo da história, sempre que se instala uma ferrovia de classe mundial, os efeitos são profundos.

A Transnordestina se compara às melhores ferrovias do mundo, como Carajás e grandes projetos asiáticos e europeus. Isso reduz o custo do frete, diminui a emissão de gases poluentes e aumenta a eficiência no transporte de grandes volumes a longas distâncias. Um comboio com 100 vagões substitui cerca de 300 carretas. Isso reduz acidentes, o desgaste das estradas e não prejudica o transporte rodoviário. Pelo contrário: o rodoviário passa a atuar como alimentador da ferrovia e dos portos.

Além disso, as indústrias tendem a se instalar ao longo da ferrovia, o que explica a grande demanda por terminais intermodais em praticamente todas as cidades por onde passamos. Isso vai transformar toda a região Nordeste.

ME – Sobre o trecho entre o Piauí e o Ceará, que será o primeiro a operar, como está a expectativa?

Tufi Daher – É bastante oportuno falar sobre isso, porque hoje, dia 16 de dezembro (dia da entrevista), estamos realizando o primeiro carregamento de milho. Mesmo sem um evento oficial, já iniciamos os testes operacionais. Estamos carregando 20 vagões de milho no terminal próximo a São Miguel do Fidalgo, no Piauí. Esse transporte deve ocorrer na próxima quinta-feira (18/12), como teste operacional. Vamos realizar testes completos: carga, descarga e operação em marcha, para que, quando a operação comercial for oficialmente autorizada, estejamos totalmente prontos.

ME – Esse trecho deve operar com quais cargas?

Tufi Daher – Temos dois fluxos já definidos: o transporte de grãos vindos do Mato Grosso com destino à região central do Ceará e o transporte de produtos do Polo Gesseiro. Também faremos testes, se não ainda em dezembro, no início de janeiro, na primeira quinzena, com o transporte de calcário agrícola, saindo de Trindade, em Pernambuco, até o terminal no Piauí.

ME – Qual é a importância do Porto do Pecém nesse contexto?

Tufi Daher – Os portos são fundamentais para as ferrovias. Eu diria até que são três portos estratégicos: Itaqui, Suape e Pecém. O Porto do Itaqui acessa a malha antiga. Suape, com a retomada em Pernambuco, será fundamental para o desenvolvimento regional. Já o Porto do Pecém, embora ainda não esteja preparado para grãos, receberá a partir do próximo ano um terminal ferroviário próprio para grãos, minérios e fertilizantes. Com projeções realistas, acreditamos que, em dez anos, a capacidade do Porto do Pecém pode dobrar. Ele estará completamente integrado à Transnordestina.

ME – O Polo Gesseiro de Araripe, em Pernambuco, aguarda ansiosamente uma ferrovia? A TLSA já negocia com empresas locais?

Tufi Daher – Já tivemos várias reuniões na região do Araripe, em Araripina. O gesso produzido ali é de altíssima qualidade. Hoje, o principal impeditivo para a exportação é o custo do frete. Com a ferrovia, esse custo pode ser pelo menos 30% menor que o rodoviário. Isso torna o polo extremamente competitivo, tanto no mercado interno quanto no externo. Nosso plano de negócios prevê, no futuro, o transporte de pelo menos 1 milhão de toneladas de gesso por ano.

ME – A Transnordestina pode ser considerada o grande elo logístico do Matopiba (região de expansão agrícola localizada no Brasil, que abrange áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Como estão as negociações com esse polo?

Tufi Daher – Sem dúvida. Hoje não faz sentido escoar a produção do Centro-Oeste para portos do Sudeste para depois seguir em direção oposta. Isso ocorre por falta de opção. Com a Transnordestina e outras ferrovias em construção, como a FIOL I e II e a Ferrogrão, a logística brasileira de grãos vai mudar significativamente. Defendemos a ligação da Transnordestina com a Ferrovia Norte-Sul, na região de Guaraí, no Tocantins, para colocar os portos de Itaqui, Suape e Pecém em concorrência. Quem decide é o dono da carga, com base em custo e tempo. Muitas vezes, vale a pena pagar um pouco mais no frete ferroviário para economizar 20 ou 30 dias de espera nos portos.

ME – Existe possibilidade de a Transnordestina atender também a indústria automotiva do Ceará?

Tufi Daher – A importação de peças pode ocorrer via Porto do Pecém. No entanto, a planta automotiva não está diretamente conectada à ferrovia, o que exige estudos adicionais. Ainda não posso afirmar se haverá essa conectividade no curto prazo, mas certamente será avaliada.

ME – Há previsão de novos terminais logísticos ao longo da ferrovia?

Tufi Daher – Sim. Temos entre seis e oito terminais previstos para os próximos anos. Alguns já estão em implantação, como Eliseu Martins e o terminal no Porto do Pecém. Iguatu e Quixeramobim também estão recebendo investimentos, inclusive com projetos de porto seco. Além disso, estudamos novos terminais próximos ao Pecém, mais dois, e em Salgueiro (PE), não tenho dúvida que será um entreposto importante, que pode se tornar um importante polo para combustíveis, materiais da construção civil, talvez uma distribuidora de cimentos e contêineres-, e no Ceará que é distribuidor de calçados. Mas é importante destacar: terminal não se constrói sem demanda. É preciso volume, viabilidade econômica e estrutura adequada.

ME – Existe plano de expansão da ferrovia para outros estados do Nordeste?

Tufi Daher – Existem estudos, sim, conduzidos pelo Ministério dos Transportes e pela Infra S.A. Quanto mais ferrovias modernas tivermos no Nordeste, maior será o desenvolvimento regional. Ferrovias eficientes reduzem custos e beneficiam toda a sociedade.

ME – Do ponto de vista econômico, como o senhor avalia o potencial de retorno da Transnordestina?

Tufi Daher – Ferrovia é um investimento de longo prazo. Estamos falando de um projeto de cerca de R$ 15 bilhões, ou US$ 3 bilhões. O retorno vem ao longo do tempo. Em concessões de 30 anos, o break-even costuma ocorrer após cerca de dez anos. Tudo depende do volume de cargas transportadas. Atrair grandes tradings do agronegócio é fundamental para garantir essa escala.

ME – Além de grãos e minérios, que outros tipos de cargas estão sendo negociados?

Tufi Daher – Contêineres, cimento, combustíveis, como diesel, gasolina e álcool, além de produtos da construção civil e cargas agrícolas. São seis ou sete cadeias produtivas que podem ser atendidas nos próximos 4 a 5 anos.

ME – Para encerrar, quais são as expectativas após essa primeira operação entre Piauí e Ceará?

Tufi Daher – À medida que a ferrovia avança em direção ao porto, novos mercados são alcançados. Daqui a pouco conseguimos atingir, por exemplo, esse polo da Vale em Quixeramobim, e conseguimos pensar em outros produtos, como algodão, por exemplo, para essa região. Enquanto a gente não finalizar até o Porto do Pecém, o mercado interno não é suficiente para rentabilizar o projeto, é um projeto que precisa da forte exportação de grãos e minério. 2026 será um ano muito especial para a Transnordestina, entramos em operação no mercado. Já temos dezenas de pré-contratos e alguns contratos assinados. O crescimento será contínuo, e uma ferrovia moderna acaba atraindo tanto o empresariado brasileiro quanto investidores internacionais.

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