Trump abre área selvagem do Alasca à exploração de petróleo e gás após longa disputa

O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira um plano para permitir a perfuração de petróleo e gás no Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico do Alasca. A região é uma das maiores áreas de natureza intocada remanescentes no país. A decisão foi a mais recente reviravolta em uma longa disputa sobre o destino da planície costeira do refúgio, uma área intocada de 1,56 milhão de acres que se acredita conter bilhões de barris de petróleo, mas que também é um habitat crítico para ursos polares, caribus, aves migratórias e outros animais selvagens.

Durante seu primeiro mandato, Trump assinou uma lei tributária de 2017 que exigia duas vendas de concessões de petróleo e gás no lugar, mas o governo do ex-presidente Joe Biden posteriormente suspendeu e depois cancelou essas concessões.

Agora, o Departamento do Interior anunciou que realizaria uma venda de concessões de petróleo e gás na planície costeira nos próximos meses. A agência também disse que restabeleceria sete concessões do óleo negro no refúgio que o estado do Alasca adquiriu em 2021, mas que também foram canceladas dois anos depois por Biden.

— Esta terra deve e irá apoiar o arrendamento responsável de petróleo e gás — afirmou o secretário do Interior, Doug Burgum, durante um evento do “Dia do Alasca” na sede do Departamento, que ocorreu mesmo com muitos funcionários afastados durante a paralisação do governo.

Burgum também anunciou que a pasta havia finalizado um acordo que permitiria a construção de uma controversa estrada de cascalho através do Refúgio Nacional de Vida Selvagem Izembek, no sudoeste do Alasca. Ele ainda reiterou que a agência daria luz verde a uma estrada industrial que atravessaria uma área selvagem intocada para chegar a uma mina de cobre e zinco proposta no norte do Alasca.

— Juntas, as decisões representam uma mensagem clara e unificada, que é a de que o Alasca está aberto para negócios — disse.

Trump prometeu repetidamente aumentar a perfuração no Ártico como parte de seus planos para expandir a produção de petróleo e gás dos EUA e alcançar o “domínio energético americano”.

No entanto, as grandes empresas petrolíferas têm demonstrado pouco interesse em perfurar no refúgio, em grande parte devido ao alto custo e a algumas preocupações com as relações-públicas. Ainda não está claro se elas participarão do próximo leilão.

Além desses desafios, alguns grandes bancos se comprometeram a não financiar a perfuração no refúgio. E espera-se que grupos ambientalistas entrem com ações judiciais para tentar bloquear a venda do arrendamento.

“Lutaremos contra qualquer tentativa de industrializar a frágil planície costeira do refúgio do Ártico e todas as opções estão em aberto”, escreveu Kristen Miller, diretora-executiva da Alaska Wilderness League, em um e-mail.

Velha disputa

A questão de perfurar neste refúgio remoto tem alimentado acirradas batalhas políticas e jurídicas há quase meio século. Em 1980, o presidente Jimmy Carter assinou a Lei de Conservação de Terras de Interesse Nacional do Alasca, que designou a maior parte do refúgio como área selvagem e efetivamente proibiu a perfuração no local. Mas os republicanos do Congresso lutaram para acabar com a proibição e viram uma oportunidade em 2017, quando aprovaram uma lei tributária que exigia duas vendas de concessões na planície costeira até o final de 2024.

Ambas as vendas de concessões foram amplamente consideradas um fracasso. O primeiro leilão não recebeu nenhuma oferta das grandes empresas petrolíferas, e sete das nove concessões foram adquiridas pela Autoridade de Desenvolvimento Industrial e Exportação do Alasca, uma agência estadual que promove a atividade econômica. A segunda venda não atraiu nenhum licitante.

— A próxima venda de concessões não terá 30 empresas fazendo lances de bilhões de dólares — disse Dan Pickering, diretor de investimentos da Pickering Energy Partners, uma empresa de investimentos com sede em Houston. — Provavelmente será um grupo bastante específico de empresas que já possuem infraestrutura na encosta norte, e essa lista não é muito longa.

Ninguém sabe ao certo quanto petróleo bruto existe sob o refúgio, onde apenas um poço exploratório foi perfurado, em meados da década de 1980. Mas o Serviço Geológico dos Estados Unidos estimou, com base em dados sísmicos, que a planície costeira contém entre 4,3 bilhões e 11,8 bilhões de barris de petróleo. Para contextualizar, os americanos produziram um recorde de 4,6 bilhões de barris de petróleo em 2024.

Ao mesmo tempo, o refúgio é o lar dos ursos polares remanescentes do sul do mar de Beaufort, com fêmeas grávidas criando tocas na neve para dar à luz e criar seus filhotes. Esse habitat de tocas se tornou ainda mais importante à medida que as mudanças climáticas causaram o derretimento e o desaparecimento do gelo marinho do Ártico.

— Uma das piores coisas que se pode fazer para conservar os ursos polares é industrializar seu habitat de hibernação — disse Patrick Lavin, consultor de políticas do Alasca da Defenders of Wildlife, um grupo de conservação. “É como adicionar insulto à injúria, quando as ações humanas já resultaram na perda do habitat do gelo marinho.”

Os grupos nativos do Alasca ficaram divididos quanto à decisão.

Nagruk Harcharek, presidente da Voice of the Arctic Iñupiat, um grupo que representa organizações Iñupiat na encosta norte do Alasca e apoia projetos de petróleo e gás, disse que a medida traria benefícios econômicos. Ele observou que os impostos sobre as operações locais de petróleo e gás financiaram serviços básicos, como escolas e água encanada.

— Não era possível se formar no ensino médio na encosta norte até que o município da encosta norte construísse escolas de ensino fundamental e médio em todas as comunidades usando a receita do petróleo e do gás — disse Harcharek.

Mas Kristen Moreland, diretora-executiva do Comitê Diretor Gwich’in, uma coalizão de membros da tribo Gwich’in no Alasca e partes vizinhas do Canadá que se opõe ao desenvolvimento do petróleo, disse que a perfuração no refúgio poderia ameaçar os caribus que seu povo caça há séculos.

— Abrir a planície costeira é uma ameaça direta ao nosso povo, nossa cultura e nosso futuro — disse Moreland.

O Departamento do Interior também revelou mais detalhes na quinta-feira sobre outra questão que tem repercutido em todo o Alasca e na capital do país há décadas: um acordo de troca de terras que facilitaria a construção de uma estrada através do Refúgio Nacional de Vida Selvagem Izembek.

Embora os detalhes do acordo não tenham sido divulgados imediatamente, esperava-se que ele exigisse que a agência transferisse 490 acres de terra dentro de Izembek para a King Cove Corporation, uma organização tribal que deseja construir a estrada, de acordo com documentos analisados pelo The New York Times. Em troca, a King Cove Corporation daria ao governo milhares de acres de suas próprias terras, algumas das quais seriam adicionadas ao refúgio, mostram os documentos.

Os oponentes da estrada dizem que ela causaria danos irreparáveis à vida selvagem, bem como a muitas tribos nativas do Alasca que dependem da caça e da pesca para se alimentar. Em particular, eles alertaram que a estrada poderia fragmentar o habitat crítico dos gansos-imperadores e dos gansos-pretos-do-pacífico, que convergem para o refúgio para se alimentar de alguns dos maiores leitos de ervas marinhas do mundo.

— Eu me preocupo todos os dias com o que vai acontecer com os gansos-pretos e imperadores se houver uma estrada em Izembek — disse Edgar Tall Sr., chefe da aldeia nativa de Hooper Bay, em um comunicado. — Nosso povo caça essas aves juntos para que possamos aprender uns com os outros e ensinar nossos filhos a caçar e cuidar da terra.

Os defensores da estrada dizem que ela é essencial para conectar a remota cidade de King Cove a um aeroporto que poderia ser usado para evacuações médicas de emergência. Desde 1980, pelo menos 18 residentes de King Cove morreram porque não puderam receber atendimento médico a tempo.

— O governo Biden colocou a vida das aves acima da vida das pessoas — disse o senador Dan Sullivan, republicano do Alasca, em evento do Departamento do Interior. — Isso acaba hoje.

A King Cove Corporation e as autoridades locais de King Cove não puderam ser contatadas imediatamente para comentar o assunto.

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