O movimento unilateral do presidente Donald Trump de retirar tarifa punitiva de 40% sobre parte das exportações brasileiras significa, na prática, que ele começou a desmontar a artilharia tarifária que havia direcionado contra o Brasil em função de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Não se trata mais de algo simbólico como telefonema ou reunião para pavimentar retomada normal da relação bilateral.
Agora a administração Trump parece ter concluido que seu ataque contra o Brasil não gerou o efeito político esperado no Brasil e ainda provocou pressões inflacionárias nos Estados Unidos. Na ordem executiva publicada nesta quinta-feira, Trump não menciona mais Bolsonaro, big techs ou o ministro Alexandre de Moraes, ao contrário do que constava no texto original que instituiu a sobretaxa em agosto.
Apesar do anúncio desta quinta-feira, permanece o que fontes do setor privado chamam de “herança maldita”: uma lista de muitos produtos industriais ainda submetidos à tarifa punitiva de 40%.
O que acontece agora? Primeiro, segue pendente a negociação ministerial de alto nível — com Mauro Vieira, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad do lado brasileiro — que vem sendo tecnicamente “arredondada” por negociadores de ambos os governos.
Em seguida a essa etapa da negociação é que Brasília e Washington poderão preparar um encontro entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso o governo americano mantenha o roteiro que vem adotando nas discussões comerciais.
A formalização desse encontro não surpreenderia, para anunciar o que Washington costuma chamar de “Acordo de Comércio Recíproco” – e que terá importância bem maior na relação bilateral.
O anúncio de Trump desta quinta-feira basicamente estende ao Brasil a lista de produtos isentos divulgada na semana passada, eliminando sobre o país a tarifa de 40%.
Estimativas preliminares apontam para um alívio tarifário correspondente a cerca de 10% do que o Brasil exportou para os EUA no ano passado — o equivalente a pelo menos US$ 4,6 bilhões. Café e carne bovina, agora livres da tarifa punitiva, responderam por 7% das vendas brasileiras aos EUA em 2024.
Em comunicado, o Itamaraty afirmou que o governo brasileiro recebeu “com satisfação” a decisão dos Estados Unidos de revogar a tarifa adicional de 40% para diversos produtos agropecuários importados do Brasil. Estarão isentos vários tipos de carne, café e frutas — como manga, coco, açaí e abacaxi.
O Itamaraty lembra que o enunciado da Ordem Executiva que implementa a medida faz menção à conversa telefônica do Presidente Lula com o Presidente Trump em 6 de outubro, quando decidiram iniciar as negociações sobre as tarifas.
Acrescenta que o Presidente Trump recebeu recomendações de altos funcionários do seu governo de que certas importações agrícolas do Brasil não deveriam estar mais sujeitas à tarifa de 40% em função do “avanço inicial das negociações” com o governo brasileiro.
A medida é retroativa a 13 de novembro, data que coincide com o dia da última reunião entre o Ministro Mauro Vieira e o Secretário de Estado Marco Rubio em Washington, na qual se discutiram meios de avançar nas tratativas bilaterais para a redução das tarifas sobre os produtos brasileiros.
O governo brasileiro reiterou sua disposição para continuar o diálogo como meio de solucionar questões entre os dois países, ‘’em linha com a tradição de 201 anos de excelentes relações diplomáticas’’.
O Brasil seguirá mantendo negociações com os EUA com vistas à retirada das tarifas adicionais sobre o restante da pauta de comércio bilateral, conclui a nota do Itamaraty.
No setor privado, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) considerou “muito positiva” a decisão dos EUA de eliminar as sobretaxas de 40%, em vigor desde agosto, sobre um conjunto de produtos brasileiros — incluindo itens relevantes da pauta exportadora, como café, carne bovina, frutas e óleos essenciais.
Para a Amcham, a medida representa um avanço importante rumo à normalização do comércio bilateral, com efeitos imediatos na competitividade das empresas brasileiras e sinaliza um resultado concreto do diálogo de alto nível entre os dois países.
Ao mesmo tempo, a entidade destaca a necessidade de intensificar as conversas para estender a eliminação das sobretaxas aos demais produtos ainda afetados — especialmente bens industriais — e aprofundar a cooperação bilateral em temas de interesse comum.