
A Vale está prestes a reassumir o posto de maior produtora de minério de ferro do mundo em 2025, após anos de reestruturação e transformação cultural. A informação foi confirmada pelo presidente-executivo da companhia, Gustavo Pimenta, durante participação na Exposibram 2025, congresso brasileiro de mineração realizado em Salvador (BA).
Segundo o executivo, a mineradora produziu 328 milhões de toneladas de minério de ferro em 2024 e deve atingir entre 325 milhões e 335 milhões de toneladas neste ano, volume suficiente para superar a concorrente australiana Rio Tinto, que havia assumido a liderança após a tragédia de Brumadinho, em 2019.
“Temos enorme potencial dentro das nossas operações para desenvolver projetos de capital intensivo reduzido e de alto teor. É algo que nos deixa muito otimistas”, afirmou Pimenta.
Produção recorde e resultados financeiros positivos
O bom momento da empresa também se reflete nos números. A produção de minério de ferro entre julho e setembro foi a maior desde 2018, totalizando 94,4 milhões de toneladas no terceiro trimestre — alta de 3,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. O complexo de S11D, em Carajás (PA), registrou recorde histórico de 32,6 milhões de toneladas.
Com isso, analistas projetam aumento de 9% na receita líquida da companhia, alcançando cerca de US$ 10,3 bilhões, e alta de 17,3% no Ebitda, para US$ 4,2 bilhões, em comparação ao terceiro trimestre de 2024. Apesar da expectativa de leve queda no lucro líquido, para US$ 2,2 bilhões, especialistas apontam que a mineradora demonstra “impulso operacional sólido” e mantém bom desempenho de vendas — 75 milhões de toneladas de minério no período, avanço de 8,2%.
Foco em eletrificação e cobre
Durante sua palestra na Exposibram, intitulada “Mineração do Futuro”, Pimenta destacou que a Vale está fortemente engajada na transição energética, com foco em cobre e níquel, minerais essenciais para a eletrificação global.
“O cobre tem um mercado restrito em oferta e uma demanda quase infinita. É a base de tudo o que se quer fazer com eletrificação no mundo”, afirmou. A Vale planeja dobrar sua capacidade de produção do metal, chegando a 700 mil toneladas até 2035, apoiada principalmente nas reservas localizadas em Carajás.
Os investimentos fazem parte do programa ‘Novo Carajás’, que prevê R$ 70 bilhões até 2030 para expandir a produção de minério de ferro e metais estratégicos, além de aumentar a eficiência e reduzir a pegada de carbono.
Crescimento com responsabilidade
O executivo reforçou que o crescimento da mineração no Brasil deve estar aliado à preservação ambiental e ao desenvolvimento social. Ele citou o caso de Carajás, cuja área sob gestão da Vale apresenta altos índices de conservação ambiental. “Nos mapas de satélite, vê-se que a região mais preservada da Floresta Amazônica no Pará é justamente a área sob responsabilidade da Vale”, afirmou.
Desde Brumadinho, a empresa passou por uma profunda transformação cultural, com revisão de processos, reforço da governança e foco em segurança. “Passamos por um redesenho completo da companhia e, talvez, estejamos no nosso melhor momento em termos de estabilidade operacional”, disse Pimenta.
Cenário de mercado e novas estratégias
Apesar da entrada de novos competidores, como a mega mina Simandou, na Guiné, Pimenta minimizou o impacto sobre o mercado global de ferro. Segundo ele, parte da nova oferta substituirá minas com capacidade exaurida ou de menor teor.
A Vale aposta na “descomoditização” da indústria, oferecendo soluções customizadas para cada cliente. “Somos a companhia mais sofisticada do mundo em minério de ferro. Temos 20 pontos de blendagem espalhados globalmente e podemos fornecer produtos de diferentes teores”, destacou.
Além disso, a mineradora investe em projetos de aço de baixa emissão de carbono, especialmente em regiões com acesso a gás natural mais competitivo, como o Oriente Médio.
Sem fusões, mas atenta a oportunidades
Pimenta também descartou, por ora, fusões e aquisições (M&A). “Nosso foco está no desenvolvimento dos nossos próprios recursos minerais. Temos um endowment minerário robusto, especialmente em Carajás, que nos permite crescer de forma orgânica”, explicou.
Embora tenha negado interesse imediato em aquisições, o executivo admitiu que a Vale “segue avaliando oportunidades”, inclusive eventuais negócios com a Bamin (Bahia Mineração).
Com a retomada da liderança global no minério de ferro, a expansão do cobre e o avanço em sustentabilidade e eletrificação, a Vale consolida uma nova fase de crescimento.
O desafio, segundo seu presidente, é manter o equilíbrio entre produtividade, inovação e responsabilidade socioambiental — pilares que sustentam o futuro da mineração no Brasil e no mundo.