Wellington Vitorino: Por que a bioeconomia é a nova indústria?

A maioria dos diagnósticos sobre o futuro do Brasil parte de uma constatação comum: temos ativos únicos. Poucos países no mundo reúnem, ao mesmo tempo, uma das agriculturas mais produtivas, a maior biodiversidade do planeta, abundância de recursos naturais, uma matriz energética majoritariamente renovável e uma população jovem, criativa e diversa. A questão central é: o que faremos com esse potencial?

A bioeconomia talvez seja a resposta mais promissora – e uma das menos aproveitadas. Ela representa uma nova lógica de desenvolvimento, em que ciência, natureza e inovação se integram para gerar valor econômico com impacto ambiental positivo. Trata-se do uso de recursos biológicos para produzir alimentos, combustíveis, fármacos, materiais e energia. Mas também significa redesenhar cadeias produtivas inteiras sob uma lógica regenerativa, circular e inclusiva.

Enquanto boa parte do debate sobre competitividade ainda se ancora na ideia clássica de reindustrialização, países como Alemanha, Finlândia e Estados Unidos já incorporaram a bioeconomia como vetor estratégico. A Alemanha investe bilhões de euros em sua Estratégia Nacional de Bioeconomia. A Finlândia transformou a indústria florestal em polo de bioprodutos de ponta. E os EUA lançaram a Iniciativa Nacional de Biomanufatura, com apoio direto da Casa Branca, mirando reduzir a dependência de insumos fósseis.

Esses países compreenderam o que o Brasil ainda precisa assimilar: a transição ecológica não é entrave ao crescimento, é a base da nova competitividade global. E o investimento em bioeconomia vem sendo tratado cada vez mais como política industrial de longo prazo. Segundo a OCDE, o setor já movimenta mais de € 2 trilhões por ano, com projeções de crescimento acelerado nas próximas duas décadas.

O Brasil, que poderia liderar esse movimento, ainda opera com dispersão de esforços, baixa articulação entre pesquisa e mercado e marcos regulatórios defasados. Há centros de excelência científica, como a Embrapa e universidades de ponta, além de startups inovadoras em bioinsumos, proteínas alternativas e bioenergia. Mas falta um projeto nacional integrado, capaz de transformar a bioeconomia em política de Estado.

A Amazônia, por exemplo, pode deixar de ser vista apenas como um espaço a ser preservado para se tornar protagonista de uma economia florestal de alto valor agregado, que combine saberes tradicionais, biotecnologia, rastreabilidade e exportação de soluções sustentáveis. Para isso, são indispensáveis investimentos em infraestrutura, logística, ciência aplicada e crédito verde.

Outras regiões, como o Cerrado, o Semiárido e o Sul, também podem abrigar polos de bioeconomia adaptados às suas realidades e vocações. A transformação de resíduos agrícolas em energia e fertilizantes, o uso de enzimas para reduzir químicos industriais e a criação de cadeias curtas de valor são alguns dos caminhos possíveis.

A grande vantagem da bioeconomia para o Brasil é que ela não exige negar o agronegócio, mas redesenhá-lo. Não substitui a indústria, mas a reinventa. E não depende apenas de tecnologia de ponta, mas também de redes locais, inteligência territorial, educação e inclusão.

Se quisermos ser competitivos no século XXI, precisamos de uma agenda que combine descarbonização e produtividade, ciência e inclusão, biodiversidade e desenvolvimento. A bioeconomia oferece exatamente isso. Como reforça a Universidade de Wageningen, referência global no tema, o futuro das economias sustentáveis dependerá de “como países integram natureza, tecnologia e comunidade”.

O Brasil já dispõe dos recursos. O que falta, agora, é decisão.

Wellington Vitorino é diretor-executivo do Instituto Four

E-mail: wvitorino@institutofour.org

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