Wilson Brumer: O setor e Minas Gerais não merecem

Houve um tempo em que se acreditava que a mineração era apenas feita de pedra, suor e aço. Hoje, descobrimos que ela também é feita de lama, e não apenas a lama que escorre das barragens ou dos rejeitos, mas a lama mais viscosa: a da corrupção.

Um executivo da Agência Nacional de Mineração, justamente quem deveria guardar o interesse público, aparece envolvido em esquemas obscuros. No Estado de Minas Gerais, executivos que deveriam zelar pela riqueza do subsolo e pelo futuro das comunidades se perdem na velha trama de favores, conchavos e conivência.

Assim, um setor que gera empregos, movimenta exportações e sustenta parte fundamental da economia mineira passa a carregar o estigma da desconfiança. Como se todos fossem cúmplices. Como se cada tonelada de minério extraído viesse manchada não apenas de pó, mas de suspeita.

O setor e Minas não merecem.

Mas é preciso separar o joio do trigo: o setor não pode carregar a mancha de poucos. Há milhares de profissionais sérios, engenheiros, técnicos, empresários, que constroem diariamente uma mineração responsável, rejeitando práticas ilegais e repudiando, de forma clara, a corrupção. O setor clama para que a lama moral não se torne símbolo de todos.

Não merece ver sua imagem arrastada pela ganância de uns poucos.

Não merece que a honestidade de tantos seja abafada pelo barulho das manchetes policiais.

Não merece que o futuro de investimentos e de inovação seja contaminado pela memória curta dos escândalos.

O setor, Minas e a sociedade atingida já sofreram muito com as tragédias de Mariana e Brumadinho. Agora, quando se busca corrigir problemas estruturais, reparar danos sociais, sabendo que a perda de vidas jamais será sanada, vemos fatos e ações que não condizem com o reconhecimento dos erros cometidos nem com o aprendizado que se almeja.

Se a mineração é uma riqueza que seja tratada como tal: com responsabilidade, rigor e transparência. Porque o minério pode se esgotar, mas a vergonha, quando instalada, demora muito mais a ser removida.

O setor não merece. Minas, tampouco.

*Wilson Brumer

Conselheiro da Revista Brasil Mineral; ex-presidente do Conselho do IBRAM; ex-presidente da Vale, Acesita (hoje Aperam) e Usiminas

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